sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Como estuprar a paciência de alguém

...Sentei no banco ao lado do sujeito e mal me aconcheguei, ele se virou e perguntou:
" - Você é evangélico?"
"Fudeu" - Pensei.
Respondi um "não" firmemente e fixei o horizonte à minha frente. Logo, o sujeito me pediu dinheiro sem qualquer explicação e sem ar de compaixão. Neguei, sem qualquer explicação e sem qualquer compaixão.
Não contente, ele tirou uma camisa velha e amarrotada de sua mochila:
" - E se eu te der essa camisa?"
" - Não, amigo. Obrigado."
" - Sabe como é né playboy? Tenho sete filhos pra sustentar. Ontem meu filho mais velho me pediu uma Hornet."
" - Poderia comprar uma laqueadura de trompas pra sua esposa."
" - É aí que tá, eu tenho cinco mulheres, um filho com cada uma e na última eu meti dois..." - Disse com um sorriso orgulhoso.
(Fiz meu cálculo, e conclui que um tenha morrido)
" - Parabéns"
" - Quer um playboy?"
" - O que?"
" - Um filho meu"
" - Não, mas tua mulher eu aceito"
" - Ih qual foi playboy? Quer furar meu olho?"
" - Num fode ô maluco, tá me enchendo o saco, porra!"
" - Ih a lá, playboy cheio de marra..."
" - Ih a lá, fudido cheio de filho... E se tu me chamar de playboy de novo eu te como na porrada!"
" - Já é então, cessou... Cessou..."

(Dois minutos...)

" - Pô, mas não tem como fortalecer nem uma herança?"
" - Maluco, pede a Deus pra teu filho não fazer a mesma merda que tu fez, ficar rico e morrer antes de você, só assim tu vai ter tua herança!"

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Semblante de mulher

Eu atendia duas jovens com pouco mais de 18 anos. Lindas, com seus cabelos escovados, toques de maquilagens rosados, decotes exuberantes. Radiantes de alegria, sorriam à toa, fazendo bobas piadas sobre tudo ao redor. Me distraíram facilmente, até que uma outra figura feminina se aproximou por detrás das meninas, discretamente. Desloquei a visão tirando as jovens de foco, e vi uma senhora com seus trinta e tantos anos, de braços cruzados e seriamente impassível, porém, de alguma forma, inspirava simpatia. Dispensei as meninas rapidamente, e recebi a mulher com um cortês "boa noite". Ela começou a falar e sua voz era madura, medida e cheia de reticências. Me olhava dentro dos olhos com uma segurança intimidadora. E ao me ouvir, parecia avaliar cada palavra comprometendo minha atenção. Atendendo seus pedidos de compra, me afastei e retomei o olhar à ela. De longe, era ainda mais "mulher". Tinha um semblante espetacular de se portar. Vi ali, o que realmente era uma mulher de verdade. De beleza madura e consciente disso. Sem se exaltar. Era apenas mulher... Passei a noite pensando se um dia, minha futura esposa teria a mesma vaidade depois de anos de casamento, ou se inspiraria simpatia mesmo diante de um espelho, vendo que sua beleza, deixava de longe, duas meninas na flor da idade, parecerem crianças mimadas que cuidam de seus corpos como de suas bonecas Barbie...