quarta-feira, 14 de julho de 2010

Água e vinho

Você recostava a cabeça ao meu peito,
Sorria das bobagens que dizia
Bebia de meu copo
Arrotava alegria

Não media palavras ao dizer o quanto era especial
Sentia-se bem ao sentir-se mal
Fazia meu dia cabal

Ríamos dos outros como quem não faz parte desse mundo
Éramos um do outro como se não houvesse outros
Dava ouvidos aos meus sonhos imundos
Deu música aos meus ouvidos insossos

Você tomou minha distração e fez dela emoção.
Me fez por noites fazer planos pro futuro
Você se deu como quem quer meus filhos
Se disse minha estando sozinha

Mas não contente fez seus dias vazios
E assim se perdeu,
se esvaiu
Nos conduziu ao ponto de partida de qualquer vida vivida
Onde a mesmice de sempre acalenta a nostalgia

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Como estancar a inocência

Eu andava pela rua quando dois meninos com pouco mais de sete anos passaram por mim correndo, com suas pipas, latas de linha, ceróis e rabiolas. Com todo aquele gás de criança, correndo como se o mundo estivesse acabando. Recordei-me de minha infância.
Quando estancar uma pipa era uma perda irreparável
Quando até tomar banho era diversão, fazer moicano com espuma do xampu.
Quando andar no meio-fio era um grande desafio
Quando subia na mangueira e me sentia o rei do mundo
Quando corria dos marimbondos que moravam na mangueira
Quando sentava no chão pra tirar o espinho do pé
Quando espancava as bananeiras fingindo ser ninja
Quando jogava bola com o amigo imaginário e podia sempre ganhar
Quando abandonava o amigo imaginário - tristemente - pra ir a casa da tia comer o macarrão que só ela sabia fazer

Vi que a essência de ser criança, nunca muda. E fiquei ali, sorrindo pra mim mesmo vendo os dois meninos "dibicando" suas pipas, me vendo ainda com o dedo pintado de mercúrio, cheio de cortes de linha, correndo no bar pra comprar um "dezinho". De repente, o menino abriu um cordial diálogo com seu amiguinho que me deixou boquiaberto:

" - Vou te arrastar!"
" - Vai arrastar é o ca%#lho! Se tu arrastar eu vou estourar tua cara!"
" - Duvido! Vem então, seu v#&do!"
" - Num me chama de v#&do não! Seu arrombado!"
" - Vai tomar no seu c*!"
(Silêncio de dez segundos)
" - Ca%#lho! Ali Juninho, cheia de linha!"

E os dois saíram correndo como dois bons amigos atrás da pipa voada.

Naquele momento minha admiração estancou, cheia de linha. E minhas lembranças voaram ao vento. De como tive uma infância pura, cheia de fantasias, tão inocente quanto a bananeira que apanhava de mim, sem saber o porquê.