quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

No Complexo do Alemão...

Era o primeiro sábado de operação policial. Os tiros crivavam os tijolos da parede da cozinha. Lá fora, gritos de desespero ecoavam pelos becos da favela. Cachorros nem se atreviam a latir. O cenário assistido pela fresta da janela era de guerra. Pedro Lucas olhava para o relógio de parede da sala, apreensivo. Eram 13:46, faltava pouco. Mas aqueles minutos pareciam horas. Ele ouvia as rajadas de 7-meia-2 quase que lentamente. Cada disparo parecia um segundo interminável. De repente, Pedro Lucas ouviu um barulho um tanto desconhecido, mecânico e uniforme, assemelhando-se à moenda de sr. Severino que, a essa hora, com certeza, não estaria vendendo pastéis e caldo de cana no pé do morro, visto que o Complexo do Alemão parecia Stalingrado em 19 de Agosto de 1942. Pedro Lucas deu uma outra olhada no relógio: 13:56. Apenas quatro minutos. Seu dedo indicador coçava de vontade de pressionar o botão. O barulho ganhou projeção maior e, agora, Pedro podia sentir que estava ao lado de sua casa. Tomou coragem, inflou o peito com ar e abriu a janela pra ver o que era: um blindado do exército subia sua rua, imponente, à todo vapor. Pedro Lucas não acreditava no que seus olhos viam. Um tanque de guerra, ali?
O veículo girou sua ponto-cinquenta, erguendo-a em direção a casa de Pedro, que ficou em choque ao constar que a ponta da arma era tão comprida que podia alcançar os fios da instalação telefônica de sua residência. O soldado que manejava a arma notou o espanto de Pedro Lucas e mandou que seguissem em frente. Foi aí que aconteceu o que Pedro mais temia - era o fim. Seu mundo caiu por terra: O blindado arrebentou o fio do telefone. Eram 14:00 em ponto. Horário da tarifação única de sua internet discada. Era o início de um fim de semana sem Orkut, MSN e Twitter. Pedro Lucas desejou a morte.