quinta-feira, 23 de junho de 2011

Âncora sexual

Foram meses de investimento! Juan havia deixado até seu bigode crescer ao saber que ela assim gostava. Periciou seu perfil no Facebook em busca de evidências. Descobriu seus gostos, suas preferências, montou um mosaico no seu quarto: fotos penduradas, anotações, fragrâncias de perfumes fixadas em guardanapos. Um trabalho e tanto! E agora estava ela ali, deitada em sua cama, com o dedo indicador na boca e outra mão acariciando a barriga. Cima a baixo...
Juan dedicou sua vida àquela noite. Tudo parecia perfeito: a iluminação à velas, a música ambiente, a temperatura do quarto. Ele havia até deixado o banheiro se encher de vapor da água do chuveiro e grafou no espelho: "te espero na cama..." Escolhera sua melhor cueca, passara hidratante em seu abdômen e raspara o pubis até parecer um menino de cinco anos. O conquistador apagou a luz de vez fazendo com que as velas dessem um tom alaranjado à silhueta da moça na cama, a qual abriu as pernas e o abraçou como um casulo. O prazer era infindável... Tinha tudo pra dar certo. Juan beijou levemente o pescoço da mulher, passando em seguida para o seu busto. Mordiscou sua pele e a alça de sua blusa, arranco-a como um cão tomando seu filhote pelo lombo; preciso e delicado. As aréolas de seus seios estava sólidas; ardia por prazer. Depois de beijar toda a barriga, Juan deitou-se sobre a moça, rosto com rosto, e começou a desabotuar a calça que o deixaria a um passo de seu sonho. Olhos nos olhos, o rapaz puxou o que restava de roupa em sua musa e atirou para o lado. Aquele vulto tomou sua atenção. Por um momento não acreditou em seus olhos e tentou dar continuidade ao seu ritual, mas sua visão periférica não o deixava em paz. Olhou novamente e a essa altura sua mente já estava encharcada de perturbação. Percebeu que por conta disso mal tinha uma ereção. A mulher o desejava! Arranhava suas costas, insaciável. Porém Juan estava em outra dimensão. Só tinha olhos para aquilo que acabara de lançar ao chão. Tentou se lembrar de todos os filmes pornôs que assistira na vida: anal, animal, tântrico, necrófilo! NADA! Sua libido estava sendo torturada no tapete... ao lado daquela horrível calcinha bege da Demillus.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A infidelidade do romance policial

A viatura policial do 31º batalhão chegou com discrição no estacionamento do Mc Donald's, de onde Borges desceu arrastando a bandoleira de seu Colt M4 no chão, preguiçosamente. Logo, deu um último trago em seu cigarro e se dirigiu a Farias, ainda dentro do veículo:

" - Vai 'querê' um Big Mac, Farias?"
" - Não, Sargento. 'brigado'."

Borges empurrou a porta do estabelecimento com o bico do fuzil e sumiu da vista do soldado.
Parecia uma noite tranquila. Nenhuma ocorrência até então, só se ouvia o som estacado de música eletrônica ao longe, num bar qualquer, onde a burguesia refogava os valores mundanos.

Farias retirou sua boina e secou o suor de sua cabeça. A brisa da orla não tocava a Avenida das Américas. De repente uma luz sólida tomou o interior da viatura e tudo à sua volta. Um Opala preto, de vidros fumês, parou no auto-posto ao lado e desligou-se o motor. O soldado destravou seu fuzil e saiu da viatura lentamente, recostando-se na fria lataria, observando o suspeito com olhar aguçado. Uma fresta de janela se abriu no funesto carro e Farias pode contar rapidamente quatro cabeças ocultas pela escuridão. Farias moveu seu dedo indicador de forma milimétrica até o gatilho e em passos curtos, alinhou sua silhueta atrás de um poste. Dali podia-se ver Borges de costas, no interior da lanchonete de papo com a atendente sorridente, que provavelmente deliciava-se com as histórias sagazes do Sargento.
O Soldado sentiu o que em anos de serviço não vivenciava: a sensação de vida por um fio. O Opala deu partida no robusto motor 4.1 e uma névoa branca tomou suas linhas uniformes. Em seguida arrancou bruscamente fazendo com que os pneus traseiros emitissem um choro lancinante ecoado nos lotes lindeiros da Avenida. Farias não pensou duas vezes antes de saltar por cima do capout da viatura, caindo do outro lado já em posição de assalto. Ao cortar o ângulo de combate, o soldado pôde ver os bicos de dois fuzis apontados em sua direção. Foi nesse momento em que Farias contou seus supostos últimos segundos de vida e por algum motivo desconhecido se deixou levar, recolhendo seu dedo do gatilho, seguido pela mão e em seguida, fazendo um sinal da cruz. Ele tentou fechar os olhos, mas um sentimento de medo mesclado com uma tácita coragem não permitira. Através de luzes borradas, Farias viu o carro tomar distância, ouviu as quatro marchas sendo engatadas gradualmente até que o som maquinante destoasse em seus ouvidos. O alívio do soldado durou apenas dois segundos até que se pôs de pé - com as pernas ainda trêmulas - e correu até a Lanchonete. Chutou a porta com veemência e bradou:

" - SARGENTO! Veículo suspeito em fuga, quatro ou cinco indivíduos possivelmente armados!"

Borges olhou-o boquiaberto, com um pedaço de alface nos dentes.

" - Em fuga de que, soldado?"
" - (...)"
" - Eles pararam no posto e saíram em retirada sentido Barra!"
" - (...) E daí?
" - (...) E daí nada, Sargento."

Todas as pessoas do recinto olhavam, paralisadas. O picles do hamburguer de Borges caiu no chão.

" - Num fode, Farias. Deixa eu comer meu Big Mac em paz, porra."