quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Volte pro berço

Seus olhinhos amendoados eram tão serenos. A cabeça se equilibrava sobre o pescocinho frágil, oscilando ora para a frente, ora para trás. Em sua boca, nenhum dentinho havia. Nas horas de refeição usava um cômico babador. Balbuciava algo indecifrável e jogava mingau para todos os lados. Não podia ficar só por um minuto: arrancava suas fraldas e sujava todo o chão. Ao menor descuido, seus curtos passinhos poderiam se tornar seus maiores inimigos, e lá estava ele no chão, chorando com o joelhinho todo ralado. " - Está na hora do 'remedinho'". Diziam. E ele caia em prantos ao ser obrigado a tomar uma pequena colher de xarope. Acordava no meio da noite com pesadelos terríveis e precisava ser acalentado até acreditar que estava tudo bem. E cinco minutos depois, estava ele dormindo de novo com a boca aberta. Teria ele a vida inteira pela frente? Não... Sr. Agenor morreu sentado na cadeira de balanço em sua varanda com um infarto fulminante. Sem dó, sem honra, sem filhos por perto.
Um feto... sem afeto... fétido...