Raquel repousava a cabeça sobre o braço,
deitada na cama observando a pesada respiração de Marco Aurélio. Olhou pro seu
dedo anelar e podia ter certeza que a marca não estava nítida o bastante pra
três anos e sete meses de casados. Passou a aliança de dedo em dedo, comparou à
sua, encaixou em seu polegar e a envolveu nas mãos. Não podia mais guardar
tanta aflição dentro de si. Não podia passar de hoje. Ainda conseguia ver a
preciosa joia jazendo sobre o frio mármore do banheiro. Cutucou seu marido uma,
duas vezes, até que ele se virou. Não contente, passou pro outro lado da cama e acariciou os cabelos intensificando a pressão dos dedos
para que Marco acordasse.
“ – Que que
foi, amor? Não são nem sete horas, porra...” – Reclamou Marco pressionando o
travesseiro sobre a cabeça.
“ – A gente
precisa conversar, Marco Aurélio.”
“ – tsc...
Não pode ser amanhã, semana que vem, num ano bissexto, amor?”
“ – Não
posso mais adiar isso. Tá remoendo dentro de mim. “
Marco
Aurélio desistiu, coçou os olhos, bocejou e se virou pra sua amada.
“ – Então
fala, amor. O que que tá te incomodando?”
“ – Então.
Eu tenho uma coisa seríssima pra te perguntar. Mas você tem que ser muito
sincero comigo porque eu não vou admitir...
“ – Fala
looooogo, Raquel, nunca te neguei nada, você sabe disso...”
“ – Tá!!!
Então me responde: por que você vive tirando a sua aliança e largando no
banheiro? Já é a sexta vez que isso acontece!!!”
Incrédulo,
Marco desaprovou a pergunta da moça e passou as mãos nos rosto.
“ – Não
acredito que tu me acordou pra perguntar isso, Raquel. Porra... eu esqueci...
simplesmente esqueci...”
“ – Ah,
então você vive esquecendo nosso casamento assim? No banheiro, onde vivem as
baratas?”
“ – Pelo
amor de Deus, Raquel... tirei pra não ficar preta... pra conservar e tal”
“ – Deixa de
ser mentiroso, Marco Aurélio, você comprou isso na HStern, isso nunca vai ficar
preto!!! – Disse Raquel sacudindo a aliança a meio palmo do rosto do marido.
“ – Não é só
isso. Tenho certeza que tem alguma coisa que você não quer me contar. Mas pode
contar, vamos lá, eu sou forte.”
“ – Esquece
isso, Raquel, porra...”
“ – MARCO
AURÉLIO, ou você me conta o que tá acontecendo agora ou eu vou pra casa da
mamãe e só volto quando...”
“ – Ah,
porra! Parabéns, você conseguiu! Quer saber a verdade? Então eu vou te falar a
merda da verdade e espero que tu engula e pare de encher a porra do saco!
Raquel secou
uma lágrima e cruzou os braços:
“ – Então vai, Marco Aurélio, me diz por que você tira a aliança.”
“ – Então vai, Marco Aurélio, me diz por que você tira a aliança.”
“ – Eu tiro
essa porra porque sempre que vou passar sabonete no meu rabo, essa merda
enrosca nos cabelos do meu cu e dói pra caralho! Satisfeita!!!???”
Raquel não
esboçou o menor sentimento. Simplesmente se deitou e dormiu até meio-dia.
Satisfeita.