segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A morte de uma amizade

Shakespeare dizia que melhor que fazer novas amizades é manter os velhos amigos. Genial, de fato. De passagem, ele fez muitos amigos depois que se fora. Quem sabe tenha mantido enquanto vivo. Eu, de passagem, não...
Quando adolescente, acreditava que tudo seria o sempre, até o dia de minha morte - talvez. Mas o tempo, além de trazer minha glória, minha felicidade, me tomou o que um dia parecia infinito: Minhas antigas amizades. Há quem fora levado pela morte, pela distância necessária, pelo sucesso profissional, de cada um. Mas de todas as perdas, o tempo foi o maior ladrão. Como a maresia corroe o aço que ancora o barco à beira-mar. Porém, desta vez, a onda não traz de volta.
O tempo, meu caro, não adverte. Um dia você estará sentado, tomando uma cerveja, jogando conversa fora. Quando perceber, ao seu lado estará um estranho. Não mais com quem você dividia seus problemas e seus momentos felizes. E sim, meu caro, alguém que não te faz bem, nem te faz diferença. Só mais um... Apenas um estranho. Nada mais...
Eis a morte de uma amizade...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Na minha "Umbre-ela"...

A chuva golpeava o telhado da cobertura bruscamente. Meu guarda-chuva parecia não mais sustentar-se. Quando surgiu no breu, uma figura feminina de pouco mais de trinta anos, completamente encharcada, desviando-se das poças d’água. Quando pensei em oferecer meu guarda-chuva, notei que a água provocava um apego de sua blusa branca ao seu corpo acentuado, logo desisti.
Ela abraçava o próprio corpo, com frio, e as gotas pingavam de seus cabelos escorridos, grudados em seu rosto. A chuva já não parecia tão forte, comparada ao dilúvio que ocorria em minha mente.
Um forte clarão iluminou tudo à volta e a mulher estendeu seu braço a frente, dando sinal ao ônibus, o qual eu já havia esquecido que esperava. Assim que parou exatamente à minha frente, estendi o guarda-chuva à sua cabeça e lhe dei passagem. Sorridente, ela agradeceu-me e subiu a minha frente, ainda completando:

“ – Ainda bem que ainda existe cavalheirismo!”

Assenti falsamente, com um sarcástico sorriso nos lábios.
Mal sabia que ao passar na minha frente, me concedeu uma bela visão de sua bunda, molhada, marcando a espessura de sua pequena calcinha...