Trema não morreu...
Contos, fatos ou apenas opiniões degustadas em copos de boteco, repousadas em bancos de coletivos e amassadas em meio a multidões. Aqui se fala de amor, se fala de horror e se fala da verdade nua e crua censurada a quem vê, mas não enxerga, cozida a fogo brando, temperada a ferro e brasa. Forjada pelo martelo de um juíz de si mesmo que contempla o processo eterno da vida. Sem intimar testemunhas, sem punir os réus, numa prisão domiciliar da pequena cela em sua mente...
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Cicatrizes
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Mocidade
sexta-feira, 21 de junho de 2013
Manifesto do pão de cada dia
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Pássaro de ferro
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
A merda da verdade
“ – Então vai, Marco Aurélio, me diz por que você tira a aliança.”
terça-feira, 29 de maio de 2012
É assim pra todo mundo, Otávio.
sábado, 19 de maio de 2012
LEI Nº 871/2011
" - Tem Omeprazol de vinte?"
sábado, 21 de janeiro de 2012
Cadê o picles?
domingo, 8 de janeiro de 2012
Ao senhor
Eu realmente nunca esperei que viesse. Nunca acreditei que realmente se importava. Como fui burro em, um dia, te levar a sério se vestindo desse jeito. De todas as palavras que procurei no dicionário da minha mãe, "patético" foi a única que parecia dizer o que penso quando lembro de você. O pior de tudo é saber que você não é homem o bastante pra vir me dar alguma explicação. Vai ver a idade já confunde sua cabeça. Já está como meu avô, se cagando pelos corredores.
Essa não é uma tentativa de dizer o quando te odeio, porque sei que nem deve ler essa carta como fez com as outras quatro que te mandei. É só pra que depois não digam que não avisei. Meu nome é João Paulo da Silva Severo e estou indo pra sua casa tirar a sua vida. Tenho nove anos, uma faca e muito ódio no meu coração. Por todas as vezes que passei a noite de Natal na janela esperando que trouxesse um maldito Playstation 2.
PS: não adianta se arrepender. Agora é tarde. Já até lançaram o 3 e meu pai vai comprar pra pagar em 24 vezes nas Casas Bahia mesmo.
domingo, 4 de dezembro de 2011
Café da manhã
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Volte pro berço
domingo, 2 de outubro de 2011
Luso-luxo
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Você vai voltar?
sexta-feira, 15 de julho de 2011
O preço do troco
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Âncora sexual
Juan dedicou sua vida àquela noite. Tudo parecia perfeito: a iluminação à velas, a música ambiente, a temperatura do quarto. Ele havia até deixado o banheiro se encher de vapor da água do chuveiro e grafou no espelho: "te espero na cama..." Escolhera sua melhor cueca, passara hidratante em seu abdômen e raspara o pubis até parecer um menino de cinco anos. O conquistador apagou a luz de vez fazendo com que as velas dessem um tom alaranjado à silhueta da moça na cama, a qual abriu as pernas e o abraçou como um casulo. O prazer era infindável... Tinha tudo pra dar certo. Juan beijou levemente o pescoço da mulher, passando em seguida para o seu busto. Mordiscou sua pele e a alça de sua blusa, arranco-a como um cão tomando seu filhote pelo lombo; preciso e delicado. As aréolas de seus seios estava sólidas; ardia por prazer. Depois de beijar toda a barriga, Juan deitou-se sobre a moça, rosto com rosto, e começou a desabotuar a calça que o deixaria a um passo de seu sonho. Olhos nos olhos, o rapaz puxou o que restava de roupa em sua musa e atirou para o lado. Aquele vulto tomou sua atenção. Por um momento não acreditou em seus olhos e tentou dar continuidade ao seu ritual, mas sua visão periférica não o deixava em paz. Olhou novamente e a essa altura sua mente já estava encharcada de perturbação. Percebeu que por conta disso mal tinha uma ereção. A mulher o desejava! Arranhava suas costas, insaciável. Porém Juan estava em outra dimensão. Só tinha olhos para aquilo que acabara de lançar ao chão. Tentou se lembrar de todos os filmes pornôs que assistira na vida: anal, animal, tântrico, necrófilo! NADA! Sua libido estava sendo torturada no tapete... ao lado daquela horrível calcinha bege da Demillus.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
A infidelidade do romance policial
" - Vai 'querê' um Big Mac, Farias?"
" - Não, Sargento. 'brigado'."
Borges empurrou a porta do estabelecimento com o bico do fuzil e sumiu da vista do soldado.
Parecia uma noite tranquila. Nenhuma ocorrência até então, só se ouvia o som estacado de música eletrônica ao longe, num bar qualquer, onde a burguesia refogava os valores mundanos.
Farias retirou sua boina e secou o suor de sua cabeça. A brisa da orla não tocava a Avenida das Américas. De repente uma luz sólida tomou o interior da viatura e tudo à sua volta. Um Opala preto, de vidros fumês, parou no auto-posto ao lado e desligou-se o motor. O soldado destravou seu fuzil e saiu da viatura lentamente, recostando-se na fria lataria, observando o suspeito com olhar aguçado. Uma fresta de janela se abriu no funesto carro e Farias pode contar rapidamente quatro cabeças ocultas pela escuridão. Farias moveu seu dedo indicador de forma milimétrica até o gatilho e em passos curtos, alinhou sua silhueta atrás de um poste. Dali podia-se ver Borges de costas, no interior da lanchonete de papo com a atendente sorridente, que provavelmente deliciava-se com as histórias sagazes do Sargento.
O Soldado sentiu o que em anos de serviço não vivenciava: a sensação de vida por um fio. O Opala deu partida no robusto motor 4.1 e uma névoa branca tomou suas linhas uniformes. Em seguida arrancou bruscamente fazendo com que os pneus traseiros emitissem um choro lancinante ecoado nos lotes lindeiros da Avenida. Farias não pensou duas vezes antes de saltar por cima do capout da viatura, caindo do outro lado já em posição de assalto. Ao cortar o ângulo de combate, o soldado pôde ver os bicos de dois fuzis apontados em sua direção. Foi nesse momento em que Farias contou seus supostos últimos segundos de vida e por algum motivo desconhecido se deixou levar, recolhendo seu dedo do gatilho, seguido pela mão e em seguida, fazendo um sinal da cruz. Ele tentou fechar os olhos, mas um sentimento de medo mesclado com uma tácita coragem não permitira. Através de luzes borradas, Farias viu o carro tomar distância, ouviu as quatro marchas sendo engatadas gradualmente até que o som maquinante destoasse em seus ouvidos. O alívio do soldado durou apenas dois segundos até que se pôs de pé - com as pernas ainda trêmulas - e correu até a Lanchonete. Chutou a porta com veemência e bradou:
" - SARGENTO! Veículo suspeito em fuga, quatro ou cinco indivíduos possivelmente armados!"
Borges olhou-o boquiaberto, com um pedaço de alface nos dentes.
" - Em fuga de que, soldado?"
" - (...)"
" - Eles pararam no posto e saíram em retirada sentido Barra!"
" - (...) E daí?
" - (...) E daí nada, Sargento."
Todas as pessoas do recinto olhavam, paralisadas. O picles do hamburguer de Borges caiu no chão.
" - Num fode, Farias. Deixa eu comer meu Big Mac em paz, porra."
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Felicidade reversa
" - Se eu não como, você também não vai"
Marreta, enfurecido, aproximou-se do menino até ficar cara a cara, com os dentes acirrados, prometendo:
" - Meio dia e meio, no parquinho! Vou arrebentar sua cara" - Saindo em seguida.
Duda sentiu suas pernas fraquejarem, correu para o terceiro andar e trancou-se no banheiro. Sentado na privada, puxava seus próprios cabelos, chorava e tampou os seus ouvidos por horas, confrontando os demônios em sua mente . Nunca brigara em sua vida. Sentia um frio na barriga só de imaginar a imagem de Marreta armando um cruzado de direita em sua face. No ápice de sua lamúria, resolveu orar pra Deus. Pediu que Ele intervisse de qualquer forma para que salvasse seu dia. Expôs suas qualidades, contou quando salvara um cachorrinho abandonado, quando fizera curativo na asa de um pardal ferido e quando ajudara uma velhinha a atravessar a rua. Por fim, secou suas lágrimas e olhou seu relógio: Meio-dia e quinze. Fez o sinal da cruz e saiu para o corredor. Ao chegar no hall do terceiro andar, seu corpo congelou pro inteiro. Estavam estiradas dezenas de corpos de alunos no chão, todos baleados. Alguns ainda agonizavam. Porém, diante da escada, jazia um corpo que provocou uma tremenda serenidade em Duda: o de Marreta, com dois tiros no peito. Uma figura robusta e mal-humorada se projetou diante de Duda com dois revólveres em mãos, Duda permanecia perplexo. Era Wellington Menezes. Ele guardou uma de suas armas, acariciou os cabelos de Duda com um sentimento fraternal e subiu as escadas.
Duda agradeceu a Deus, amarrou seu cadarço e desceu para o segundo andar. Ao passar por Marreta, deu uma bicuda em sua canela e seguiu cantarolando.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Doce e imunda inocência
Sarinha catou as moedas em seu bolsinho, contou-as uma a uma e despejou sobre a mão áspera de sr. Haroldo. Ficou por um minuto decidindo se levaria o pirulito de cereja ou de uva até que escolheu o primeiro, desembrulhou-o e o enfiou na boca olhando de soslaio para Sr. Haroldo e sorrindo em seguida. Ao sair, empinou sua pequena bunda e ainda olhou pra trás dando um novo sorriso, que inspirava algo entre inocência e subjetiva feminilidade de uma puta. Sr. Haroldo, desconcertado, ergueu a mão vagarosamente simulando um “tchau”, boquiaberto com a sensualidade daquela menina que aparentava ter seus oito ou nove anos. Sr. Haroldo começou a suar frio. Sentia-se culpado, mas o calor que subira em suas calças o fez fechar as portas do comércio e correr para o banheiro. E lá foi onde se masturbou tristemente com a imagem da menina lambendo seu pirulito.
“ – Por que você tem que ser assim com essa idade meninaaaaaaaa!!!??? Arrrrgh!!!
(Ejaculação)
sábado, 19 de março de 2011
Quem tem tem medo...
" - Nunca dei o rabo, por que eu tô passando por isso, meu Deus?"
Foi quando um médico com seus vinte e poucos anos bradou na porta do consultório 6 com uma prancheta nas mãos:
" - Alejandro!!!"
Santana desencostou-se da parede e caminhou mancando até o consultório, sentou-se com grande dificuldade e cruzou as mãos, olhando para seus dedos polegares girando em volta uns dos outros. Logo, o médico pigarreou e indagou:
" - E então, o que aconteceu, Alejandro?"
Santana mirou o crachá do médico e pode ler "Pablo Siqueira". Levantou as sombrancelhas, projetou seu discurso rapidamente e iniciou:
" - Então, Pablo. Esse final de..."
" - É "DOUTOR PABLO"
" - Como?"
" - É Doutor...Pablo!"
Santana não acreditava nos seus ouvidos. Entortou a cabeça de leve, acirrou os olhos e refletiu sobre sua vida: Já havia passado por maus bocados. Não terminou seus estudos pois teve de trabalhar pra ajudar com o orçamento em casa, trabalhou nos empregos mais imundos, fora um genuíno heterossexual até o dia presente e estava ali, levando esporro de um moleque que pensa que entende de cu. Mal sabia ele que Santana conhecia do riscado, afinal, era frequentador assíduo de todos os puteiros da zona oeste.
Santana assentiu ironicamente, sacou sua pistola trezentos e oitenta e pôs sobre a mesa. Doutor Pablo arregalou seus olhos tanto que pareciam ter hemorróidas, se segurando na cadeira.
Foi então que Santana deu início ao discurso mais emocionante de sua vida profissional:
" - Olha aqui o seu......MOLEQUE.....!!! DOUTOR Pablo né!? Ok... Por acaso você chama o faxineiro de "Faxineiro João!? Por acaso você chama o lixeiro de "lixeiro Zé!?" (Doutor Pablo negava imediatamente). Então daqui pra frente você vai me chamar de "MILICIANO SANTANA". E se você esquecer, eu vou pegar essa arma E DAR UM TIRO NO SEU CU!!! Pra você ver o quanto é bom tá sofrendo por uma coisa que você não deu e ainda ter que ouvir merdinha de um CUZÃO como VOCÊ, que faz uma MERDA de uma faculdade na Estácio e vem pra cá pensando que é malandro. Então agora você vai me ouvir e vai consertar as vinte e uma pregas do meu rabo! E não quero escutar um pio! Ouviu bem!?? OUVIU BEM SEU FILHO 'DUMA' PUTA!?"
Doutor Pablo acordou de um coma induzido e assentiu calado, e, agora, seus dedos mal tinham sangue circulando, pois ele apertava a cadeira que sustentava sua bunda com tanta força que a essa hora já devia ter desenvolvido suas próprias hemorróidas.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Grota funda
" - Posso tomar um copo contigo?"
Firmino não acreditou em seus ouvidos. Embaraçado, puxou uma cadeira com as mãos trêmulas e reverenciou sua nova companhia. Ela se esparramou, acendeu um Derby e fitou Firmino cima a baixo.
" - E aí, qualé a boa?"
Firmino quase conteve sua extasia, mas tomou um gole e resolveu ir direto ao ponto:
" - Você chupa?"
Ela arregalou seus olhos castanhos, estaria surpresa, senão fosse pelo seu longo currículo. Pediu:
" - Me dá tua mão"
Firmino estendeu sua mão, ainda trêmula. Ela a segurou com a delicadeza de uma enfermeira separou seu dedo maior e enfiou goela adentro. Ao tirar, deu uma longa chupada na ponta. Piscou lentamente e sorriu.
Firmino pediu a conta.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
No Complexo do Alemão...
O veículo girou sua ponto-cinquenta, erguendo-a em direção a casa de Pedro, que ficou em choque ao constar que a ponta da arma era tão comprida que podia alcançar os fios da instalação telefônica de sua residência. O soldado que manejava a arma notou o espanto de Pedro Lucas e mandou que seguissem em frente. Foi aí que aconteceu o que Pedro mais temia - era o fim. Seu mundo caiu por terra: O blindado arrebentou o fio do telefone. Eram 14:00 em ponto. Horário da tarifação única de sua internet discada. Era o início de um fim de semana sem Orkut, MSN e Twitter. Pedro Lucas desejou a morte.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
É coletivo...
O sujeito veio oscilante, arrastando a perna que lhe restara com o auxílio de um pedaço de madeira envolvido com trapos encardidos. Os vendedores ambulantes se desvencilhavam dele como de um cão de rua. Esbarravam as mercadorias nos seus finos braços atrelados aos ferros do vagão. O trem em movimento sagaz desconcertava seus passos a cada solavanco. E ele persistia em caminhar. Passo a passo, singular. Seus ralos cabelos caiam sobre a testa suada, acima de um rosto cadavérico. Sua pele se apegava aos ossos. Tinha um olhar distante, quase entorpecido, que já não distinguia a extensão a ser percorrida. Espalhou pelo vagão seu odor de fezes e urina. Uma senhora não disfarçou ao levar as mãos ao nariz enquanto o sujeito se arrastava pedindo esmolas. Uma onda de compaixão tomou todos os passageiros presentes. Um senhor, com sua camisa furada e seus sapatos de solas descoladas, tateou o fundo de seu bolso até extrair algumas moedas e depositá-las nas mãos do miserável. Uma jovem mulher abriu sua pequena bolsa de moedas e virou-a de ponta cabeça, doando todo seu conteúdo. Idosos abriam seus embrulhos plásticos envoltos por elásticos e retiravam notas de dois Reais, outros, até cinco. Pessoas se levantavam a todo instante e davam um pouco de si, materializados no imundo dinheiro. Aquela cena me tomou de um orgulho imensurável. Vi pessoas que não têm o que merecem ter, doarem o pouco que tinham em mãos, como se fosse um pedaço de seus corpos. Reconstruindo, assim, a perna daquele indivíduo. O ajudando a caminhar. Motivando-o a seguir em frente. Mesmo com suas desgraças, com um futuro previamente condenado, ele estava ali. O trem balançava a cada curva, ele se desequilibrava, mas não caía. Talvez aqueles tristes olhares sobre seu corpo imundo, o mantinham de pé. De uma compaixão que nunca, um nobre, em toda a sua riqueza, irá experimentar um dia. Era o amor mais puro do mundo, sobre uma figura fétida, miserável, que mal media seus passos diante do longo caminho de oito vagões que o esperavam pela frente.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Pipoca é a alma do negócio
" - Nenhum de vocês já não morreu atravessando essa linha?"
O vendedor tirou seu boné, passou a mão sobre os ralos cabelos, fitanto o senhor.
" - Meu 'sinhô', eu tenho mais de vinte 'ano' de pista aqui. Sô de bobeira não..." e saiu gritando:
" - Pipoca macia e crocante é um reaaaal!"
O senhor assentiu e ficou pensativo olhando o vendedor se distanciando. Depois se virou para mim e disse com a maior segurança do mundo:
" - Vinte anos!? P#t% que o pariu... Essa p*%ra deve dar dinheiro mesmo..."
Eu por fim, poderia ter uma visão antropológica e refletir sobre a vida daquele indivíduo trabalhador sem escolhas, talvez. Mas o calor me ardia as têmporas. Preferi concordar falsamente e rir comigo mesmo.
A vida é uma Comédia Dell'Arte - pensei.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
A que se vive, a que se come
Sr. Matarazo, muito cordial, convidara "seu Severino", pedreiro responsável pela obra a almoçar à mesa, em sua companhia e de Sr. Charles, tal qual não apreciou muito a ideia de dividir o mesmo ambiente com um peão, segundo ele, sem escrúpulos e um tanto indelicado.
Seu Severino chegou humildemente, retirou seu boné de propaganda política e sentou-se a mesa, ainda tímido. Sr. Matarazo mandou que ficasse à vontade e que se servisse, logo abrindo um diálogo enquanto servia-se de ostras à portuguesa:
" - Ah! O que mais na vida combina tão bem quanto ostras e um bom vinho?"
" - Alheira de mirandela" - Sugeriu Sr. Charles.
" - Muito bem lembrado, Charles, muito bem lembrado.
" - Uma Dodge Ram e um dia de chuva no campo" - Retrucou Sr, Matarazo
Seu Severino ouvia cabisbaixo sem intrometer-se no assunto, mastigando calmamente.
" - Um puro sangue e uma sela Ruiz Diaz" - Retomou Sr. Charles
" - Meu taco de golf e minha notável habilidade. Modéstia a parte" - Disse Sr. Matarazo sorrindo e em seguida, completando:
" - E você, Severino? Dê uma sugestão tão prazeirosa quanto as nossas!
Seu Severino palitou os dentes, pensou por poucos segundos e falou com toda a certeza do mundo:
" - Um banho quente e uma 'mulé' safada".
Os dois entreolharam-se espantosamente e seu Severino permaneceu impassível, limpando seu molar, agora com dois dedos dentro da boca.
Charles voltou a atenção à lagosta em seu prato e Sr. Matarazo refletia o pensamento de seu Severino.
" - Você é um sujeito muito esperto, seu Severino... Muito esperto!"