quarta-feira, 7 de julho de 2010

Como estancar a inocência

Eu andava pela rua quando dois meninos com pouco mais de sete anos passaram por mim correndo, com suas pipas, latas de linha, ceróis e rabiolas. Com todo aquele gás de criança, correndo como se o mundo estivesse acabando. Recordei-me de minha infância.
Quando estancar uma pipa era uma perda irreparável
Quando até tomar banho era diversão, fazer moicano com espuma do xampu.
Quando andar no meio-fio era um grande desafio
Quando subia na mangueira e me sentia o rei do mundo
Quando corria dos marimbondos que moravam na mangueira
Quando sentava no chão pra tirar o espinho do pé
Quando espancava as bananeiras fingindo ser ninja
Quando jogava bola com o amigo imaginário e podia sempre ganhar
Quando abandonava o amigo imaginário - tristemente - pra ir a casa da tia comer o macarrão que só ela sabia fazer

Vi que a essência de ser criança, nunca muda. E fiquei ali, sorrindo pra mim mesmo vendo os dois meninos "dibicando" suas pipas, me vendo ainda com o dedo pintado de mercúrio, cheio de cortes de linha, correndo no bar pra comprar um "dezinho". De repente, o menino abriu um cordial diálogo com seu amiguinho que me deixou boquiaberto:

" - Vou te arrastar!"
" - Vai arrastar é o ca%#lho! Se tu arrastar eu vou estourar tua cara!"
" - Duvido! Vem então, seu v#&do!"
" - Num me chama de v#&do não! Seu arrombado!"
" - Vai tomar no seu c*!"
(Silêncio de dez segundos)
" - Ca%#lho! Ali Juninho, cheia de linha!"

E os dois saíram correndo como dois bons amigos atrás da pipa voada.

Naquele momento minha admiração estancou, cheia de linha. E minhas lembranças voaram ao vento. De como tive uma infância pura, cheia de fantasias, tão inocente quanto a bananeira que apanhava de mim, sem saber o porquê.

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