terça-feira, 3 de agosto de 2010

A que se vive, a que se come

Sr. Matarazo almoçava à negócios em sua majestosa mansão em Angra dos Reis, com Charles Craine, seu futuro sócio. Desculpava-se com Charles pelas obras em andamento nos cômodos vizinhos. Estava sendo instalada uma banheira maior de hidromassagem e uma academia particular no andar acima.
Sr. Matarazo, muito cordial, convidara "seu Severino", pedreiro responsável pela obra a almoçar à mesa, em sua companhia e de Sr. Charles, tal qual não apreciou muito a ideia de dividir o mesmo ambiente com um peão, segundo ele, sem escrúpulos e um tanto indelicado.
Seu Severino chegou humildemente, retirou seu boné de propaganda política e sentou-se a mesa, ainda tímido. Sr. Matarazo mandou que ficasse à vontade e que se servisse, logo abrindo um diálogo enquanto servia-se de ostras
à portuguesa:


" - Ah! O que mais na vida combina tão bem quanto ostras e um bom vinho?"
" - Alheira de mirandela" - Sugeriu Sr. Charles.
" - Muito bem lembrado, Charles, muito bem lembrado.
" - Uma Dodge Ram e um dia de chuva no campo" - Retrucou Sr, Matarazo

Seu Severino ouvia cabisbaixo sem intrometer-se no assunto, mastigando calmamente.

" - Um puro sangue e uma sela Ruiz Diaz" - Retomou Sr. Charles
" - Meu taco de golf e minha notável habilidade. Modéstia a parte" - Disse Sr. Matarazo sorrindo e em seguida, completando:
" - E você, Severino? Dê uma sugestão tão prazeirosa quanto as nossas!


Seu Severino palitou os dentes, pensou por poucos segundos e falou com toda a certeza do mundo:

" - Um banho quente e uma 'mulé' safada".

Os dois entreolharam-se espantosamente e seu Severino permaneceu impassível, limpando seu molar, agora com dois dedos dentro da boca.
Charles voltou a atenção à lagosta em seu prato e Sr. Matarazo refletia o pensamento de seu Severino.

" - Você é um sujeito muito esperto, seu Severino... Muito esperto!"

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