domingo, 4 de dezembro de 2011

Café da manhã

Três colheres de açúcar foram o bastante para que Souza se desse por satisfeito. Logo, afastou o pingado para o lado, cortou o pão em três pedaços, como sempre fizera, e dobrou o guardanapo de forma triangular religiosamente. Ao mordiscar o pedaço de pão, percebeu que a manteiga não estava derretida. Pediu à garçonete que desse mais duas demãos e que requentasse. Aguardou pacientemente. Souza estava muito bem consigo mesmo. Tomou seu café da manhã como um rei. Limpou sua boca , redobrou o guardanapo e depositou dentro do copo, agora vazio. Reuniu os farelos de pão e fez o mesmo. Olhou por cima dos ombros. Ele ainda estava ali sentado. Deslizou sua mão até a cintura, sacou sua quarenta-e-cinco discretamente e caminhou para a saída. Ao passar por Augusto Cunha dos Santos, encostou a gélida ponta na nuca do rapaz, que ainda teve tempo de esboçar um olhar indireto sob a face de sua morte. Era tarde demais. Com o seco estampido, migalhas de osso disputaram espaço com massa cefálica e sangue sobre a mesa. Todos no recinto estavam perplexos.
Souza guardou sua arma novamente, lamentou sobre os respingos vermelhos sobre a blusa de uma senhora à sua frente e parou na saída. Estalou os dedos, olhou pra cima. O céu estava limpo. Ia ser um lindo dia. Pensou.

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