sábado, 21 de janeiro de 2012

Cadê o picles?

A tarde caia preguiçosa. O relógio da praça mostrou escaldantes 34º que logo se transformaram em 17:48 h.
" - Fim de expedieeeente, Araújo!!!" Comemorou o sargento Torres apertando o trapézio do colega.
" - Graças a Deus, sargento! Vou ligar o giroscópio e meter o pé desse trânsito antes que apareça alguma pica pra gente." Respondeu o cabo Araújo rasgando a pista esquerda da Avenida Cesário de Melo. Os carros se afastavam feito ovelhas adestradas para que a viatura passasse.
" - Ah, Que se foda o Sérgio Cabral, Araújo. Liga esse ar-condicionado aí. Calor da porra."
" - Ihhh! Deu ruim, sargento! Olha quem tá ali na frente... tenente Paiva..."
" - Que que esse corno tá fazendo na pista a essa hora? Boa coisa não é... Vai empurrar pra gente, quer apostar?"

Ambos esboçaram falsa simpatia ao parelhar a viatura ao lado de Paiva.

" - Boa tarde, tenente".
" - Boa tarde, senhores. Encosta a viatura ali na frente que eu tenho uma boa pra vocês."
" - Fodeu, sargento. É hoje que a gente não vê Big Brother." Comentou Araújo ao estacionar de qualquer jeito.

Os policiais desceram da viatura disputando cansaço. Havia sido um dia cheio. O calor ardia em suas têmporas.

" - É o seguinte, senhores. Tem um corpo aqui nesse terreno. Mas já mandei adiantar tudo. Já tá ensacado e identificado. Vai até com fritas e refrigerante grande. Só fazer um delivery ali no necro do Rocha Faria. Molezinha... Boa tarde pros senhores. Bom final de expediente. (...) E óh... Quem achou foi vocês, hein." - Acrescentou Tenente Paiva, ao entrar em sua viatura saindo em seguida.

O sargento coçou a cabeça, abriu a mala da viatura e advertiu a si mesmo:
" - Minha mãe ainda mandou eu estudar. ' - Não, mãe. Não! Eu quero ser puliça! Eu quero ser puliça! 'Taquilpariu, tenho mais é que me foder mesmo. 'Bora, Araújo, pega daquele lado lá. No três, joga."

Bateram a tampa da mala e entraram no veículo.

" - Caralho, que pica que a gente foi arrumar uma hora dessas, sargento!!!"
" - Esquenta não, Araújo. Entra na emergência com esse puto e pede socorro. Pra gente o defunto tá vivo ainda. Larga na mão do médico e sai pra tomar um café. Quando eles ver que o defunto tá morto a gente já tá no batalhão. Só abre o lençol um pouco pro defunto respirar, foda-se."

O alarde foi total quando a viatura freiou bruscamente na porta da emergência do Hospital Rocha Faria, enfermos de muletas, grávidas e criancinhas saíram da frente para que o sargento entrasse a passos largos bradando: " - Ô maqueiro! Maqueirooo! Chama o maqueiro aí, porra!" Logo, a porta se abriu com uma porrada e estava de volta Torres junto ao maqueiro.

" - Leva direto pra sala vermelha que esse aí tá fodido a vera!" - Ordenou o cabo Araújo que já estava com o embrulho nos braços, depositando-o em seguida sobre a maca.

" - Ô maqueiro, a gente vai tomar um suco ali na cantina e já volta. 'Tamos junto ai." E logo, entraram na viatura. A luz de ré se apagou ao final da manobra e o cabo Araújo já havia engatado a primeira marcha quando a porta da emergência se abre novamente com o maqueiro gritando: " - Ô sargento!!! 'Pera aê!!! 'Pera aêêêê".
Torres, impaciente, saiu do veículo dando uma bela de uma porrada na porta. O maqueiro se aproximou do ouvido do sargento e sussurou algo que fez com que ele levasse a mão à testa e voltasse à viatura desconsolado. Acendeu um cigarro, inclinou seu corpo para se igualar a Araújo, deu um longo trago e disse:

" - Puta-que-o-pariu, Araújo!!! Como é que tu me esquece a cabeça do cara na mala?"

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