terça-feira, 1 de outubro de 2013

Mocidade

Ela estava sentada no meio fio feito uma criança. Pés separados, joelhos unidos repousando os finos cotovelos sobre, mãos envolvendo o queixo parcialmente escondido por algumas madeixas de cabelo. O loiro escorria sobre sua cabeça como um véu, porém amarrotado pela preguiça matinal. Seus olhos lutavam por se manterem abertos, e o resultado disso era um olhar semicerrado, até então disperso. Foi então que notou que minha atenção se voltava pra ela, e após um ou dois disfarces resolveu congelar seu olhar sobre mim. Sua discrição se foi com o sono. Seus olhos agiram como duas flores desabrochando, e o azul daqueles não havia sido percebido por mim. Me tomou como Medusa. Me vi perplexo, surdo, em pedra. Aos poucos, toda a sua infantilidade foi se esvaindo. Suas mãos libertaram seu rosto, afagando o véu dourado que tomou forma instantaneamente. Suas pernas deslizaram e se cruzaram como dois corpos ao coito. Ela apoiou as mãos na calçada e se inclinou levemente pra trás, revelando a protuberância de seios recém-formados que disputavam espaço com sua blusa. Parte de sua barriga à mostra ostentava uma penugem quase transparente que convidava olhares abaixo de seu umbigo. Voltei aos seus olhos, estavam sorrindo, quase que caçoando. Sua boca, estática. Ela passou os dedos por detrás da orelha, retocando seu cabelo. Aquele olhar azul não saia de mim. Incomodava, convidava, me despia e me vestia. 
Vi uma menina com seus prováveis dezesseis anos se tornar uma mulher em dois minutos. E por dois minutos fui menino.         

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