Contos, fatos ou apenas opiniões degustadas em copos de boteco, repousadas em bancos de coletivos e amassadas em meio a multidões. Aqui se fala de amor, se fala de horror e se fala da verdade nua e crua censurada a quem vê, mas não enxerga, cozida a fogo brando, temperada a ferro e brasa. Forjada pelo martelo de um juíz de si mesmo que contempla o processo eterno da vida. Sem intimar testemunhas, sem punir os réus, numa prisão domiciliar da pequena cela em sua mente...
sábado, 6 de junho de 2009
O cheiro do pecado
...A bela jovem embarcou no ônibus, apressada e cabisbaixa. Atravessou o corredor rapidamente olhando para os lados, sentando no primeiro lugar que viu e fixou seu olhar ao horizonte ao seu lado. Eu paguei a passagem calmamente e deslizei pelo corredor procurando um lugar a sentar, e por mera coincidência, o único lugar vago era ao lado da jovem. Pedi licença cortesmente e sentei-me reservado. Mas foi impossível não notar a sua presença. Ela trajava uma curta saia branca que revelava facilmente mais da metade de suas pernas. Uma blusa levemente decotada e seus cabelos úmidos ainda escorriam algumas gotas de água que pingavam eu seu ombro como numa chapa quente, gotejavam e pareciam evaporar ao seu calor. Fiquei ali, sem olhá-lha, mas notava que ela tinha um pequeno sorriso aos lábios e olhava para o nada, contemplando seus pensamentos. Foi quando notei um frescor no ar, um cheiro comum, mas que me fugia à memória a sua origem. Fiquei aspirando aquele cheiro por minutos, até me aproximar mais alguns centímetros da bela jovem a fim de aprimorar o olfato e matar minha curiosidade. Varri minhas lembranças mais remotas, incansavelmente até descobrir de onde conhecia aquele cheiro. Tudo foi se clareando vagamente e num estalo a lembrança veio à tona. Já tinha absorvido aquele cheiro por vezes. Olhei para o lado quase sorrindo, olhei-a de cima a baixo e ela pareceu entender. Parecia entender que eu sabia e aprofundou ainda mais seu olhar à janela, parecendo envergonhada. Procurei não incomodar, levantei-me e a deixei sozinha a se deliciar com suas lembranças. A três assentos adiante, estava eu a recordar, agora de minhas próprias lembranças... Inconfundível aquele cheiro de sabonete de motel...
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