sexta-feira, 2 de abril de 2010

O teor alcoólico de sua amizade...

Era o fim de uma noite quieta. A nostalgia tomava cada canto escuro e urinado das ruas de Campo Grande. Pessoas passavam sem se olharem nos olhos. Tinham pressa. O relógio marcava 23:42 pm. O silêncio de cemitério só era cortado ao passar de um carro ou outro. E em meio aquele vazio, duas figuras indiscretas, costuravam a calçada feito marionetes guiadas por cordas invisíveis. "Mendigos", pensei. Mal-vestidos, descalços e totalmente bêbados, escoravam seus corpos um ao outro, sem qualquer desconfiança, abraçados como crianças.
Aquela breve cena roubou minha atenção. Todos passavam esboçando risos e caçoando, mas eu enxergava algo diferente.

" - Eu te amo pra 'caraio' rapá..."
" - Você...(longa pausa)...É MEU amigo!!!"
" - Não! Eu sou teu IRMÃO!"
" - 'Tamu' junto!"
" - Então 'tamu' junto."
" - Tu num vai sozinho não! Eu 'vô' te 'levá' na porta de casa"
" - Mas eu num tenho casa, porra!"

E ambos escancararam suas bocas com poucos dentes e se entregaram a uma gargalhada interminável, chegando a se sentarem pra não cairem. Pareciam duas crianças. Felizes com o nada que tinham naquele momento. Não importava o torpor, seus mals odores, se eram pobres, descalços, nem tão pouco seus rumos de vida. Ali, reinava a amizade e lealdade verdadeira. Não tão pura quanto o sangue que corria em suas veias, era apenas amizade. Atribuída e retribuída na mesma medida. Coisa que pouco fazemos no nosso dia-a-dia, mesmo sãos, bem vestidos e com um telefone em mãos, não ligamos pra dizermos o quanto amamos alguém que está em nossas vidas todos os dias... Seja seu amigo de copo, de noite ou simplesmente aquele que te arranca um sorriso com um tênue abraço.

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