Contos, fatos ou apenas opiniões degustadas em copos de boteco, repousadas em bancos de coletivos e amassadas em meio a multidões. Aqui se fala de amor, se fala de horror e se fala da verdade nua e crua censurada a quem vê, mas não enxerga, cozida a fogo brando, temperada a ferro e brasa. Forjada pelo martelo de um juíz de si mesmo que contempla o processo eterno da vida. Sem intimar testemunhas, sem punir os réus, numa prisão domiciliar da pequena cela em sua mente...
domingo, 18 de abril de 2010
A gota de Devassa
Eu precisava de um tempo até seguir caminho. O calor ardia minhas têmporas e resolvi sentar num bar, abrir uma cerveja e deixar a hora passar. Degustando calmamente, de pernas cruzadas e admirando o colégio em que estudei há anos. Boas lembranças escorriam da memória como as gotas do copo suado em minhas mãos. A primeira mulher da minha vida, o cheiro de comida no refeitório, os intervalos no pátio, os mestres, o som do sinal, que hoje, tanta falta faz. Por um momento me senti adolescente. Algumas estudantes me olhavam curiosamente, cochichavam, davam risinhos abafados. Não obstante, aprimorei minha perspicácia sobre tudo que olhava naquele momento e pra tristeza própria, vi que todos eram vazios. Fumavam sem propósito, por uma falsa elegância, riam de piadas insossas criadas por eles mesmos, as belezas das meninas que ali me admiravam, eram plásticas e rasas. Tinham seus grupos separados por cores. Era uma juventude infeliz e não tinham consciência disso. A melhor época de suas vidas estava ali, se comportavam como falsos adultos e mal o sabiam fazer. Senti pena, senti raiva, senti como se aquele fosse o meu lugar, onde mudaria suas maneiras de pensar. Mas o relógio me tomou a atenção, era hora de voltar à realidade. Tomei o gole que me restava e deixei o copo ali sobre a mesa, vazio como a sua volta. Apenas uma gota ao fundo, exalando o cheiro do que outrora foi bom, como nossos pais disseram que ia ser.
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