sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

A dieta do palhaço

A tarde caía rapidamente e os moradores de rua já demarcavam seus territórios. As portas de aço rolavam com rispidez ao som ecoado quando chocadas ao chão. Era um sábado, como outro qualquer na esquina da Rio Branco com a Nilo Peçanha. E após um dia carregado, entre compras e trocas, estava faminto, definitivamente. Iniciei minha busca por um lugar a se lanchar com decência. Descartando qualquer pastel chinês 24h e fast-foods. Andei como nunca. Todos já repousavam em suas casas. E eu, não poderia enfrentar duas horas de congestionamento na nossa agradável Av. Brasil, faminto. Exausto, vi como uma miragem maldita, os arcos dourados brilhando foscamente no alto, em meio a outdorrs. O maldito Mc'Donald's. Após sete anos longe da dieta do palhaço macabro, tive de me render aos apelos do meu estômago.
Entrei desconfiado, porém, não intimidado com o marketing estúpido de cores e personagens. Fui direto e pedi um Big Mac acompanhado por refrigerante médio, nada mais. Logo, tive de ser grosseiro até conseguir rejeitar a proposta de refrigerante grande e batata-frita. De pé, observei como espião como preparavam meu sanduíche por detrás das máquinas. Sempre desconfiado, tenso. Tomei meu pedido e sentei-me numa mesa distante. Daí começou a enchente de arrependimento. Meu refrigerante, antes uma Fanta, tinha kilos de cubos de gelo, o que anestesiava a boca como Lidocaína. Aguada... Tampada a mascarar a sabotagem. A caixinha onde jazia o tão famoso Big Mac, um tanto torta, fora aberta na esperança de depois de anos, ter se redimido quanto ao meu paladar. Deixei a formalidade de lado e pensei: "- Porra nenhuma!". Ainda parecia um bicho recém executado e tostado ainda em vida. Sem qualquer semelhança ao banner acima de minha cabeça. Após quatro ou cinco mordidas caninas, achei a cereja do bolo, que por pouco não me fez vomitar. "Esqueci da porra do picles!!!" Larguei metade do refrigerante aquoso e o Big Merda, mutilado como um cadáver sobre a mesa... Parecia sangrar. Saí rapidamente, com um gosto amargo na boca e um desgosto azedo no coração nacionalista, em saber que meu país abriu tantas portas para essas fábricas de lixo. Senti saudades das empadas da dona Edite...

Nenhum comentário:

Postar um comentário