sábado, 19 de maio de 2012

LEI Nº 871/2011


    Fazia três meses desde que paçoca deixara Bangu 1. O cheiro de liberdade preenchia suas narinas feito perfume. Até a poluição sonora do chorar dos automóveis na Avenida das Américas parecia música aos seus ouvidos. Não mais sentia dor ao fazer suas necessidades fisiológicas, seu ânus estava quase recuperado. Agora Biela não mais podia violá-lo, pois ainda tinha longas décadas a cumprir em sua Alcatraz. Aquele nego maldito, pensou mordiscando uma barra de cereal surrupiada, sentado no caixa da farmácia. O emprego não era dos melhores, mas dava para bancar a fralda de seu moleque - Pampers num rola - dizia à sua jovem patroa, tem que ser a do Seninha. Mais barata que a paçoca de praxe do fim de semana. Só carreirão de dez, afinal sustentar os nove às seis de sexta-feira era doído.
    O rapaz estava perdido em seus pensamentos - tão distraído como quando Biela empurrava-o secamente segurando seus braços, nem tentava resistir, era inútil - quando três viaturas da Polícia Civil surgiram no estacionamento do estabelecimento. Manobraram, em posição de alerta, e de uma delas desceu um agente: corpulento, camisa polo, calça jeans, tênis surrado, barba por fazer, óculos escuros, mascando chiclete... e as duas saudosas .40 oxidadas na cintura ostentando o poder da razão. Paçoca estremeceu, seu ânus alargara generosamente. Mal podia conter a barra de cereal no intestino. Escondeu a embalagem debaixo do teclado, limpou a boca. O agente estava à dois passos, inspirava medo. Paçoca desejou ter Biela ao seu lado pra abraçar suas pernas, feito criança. Tô fodido, rodei de novo. Pensou em fugir, mas suas pernas não o obedeciam. Então se entregou. Quer matar, mata, pensou. O agente tirou os óculos, deu duas ou três mascadas no chiclete e fitou o rapaz, que agora tinha as axilas úmidas, uma pizza Domino's tamanho família se desenhara sobre o uniforme. A autoridade repousou o cotovelo pesadamente sobre o balcão, olhou dentro dos olhos de Paçoca e disse:

" - Tem Omeprazol de vinte?"

Paçoca se cagou de alívio.

Um comentário:

  1. Paçoca se cagou de alívio. Essa foi boa !!! Gostei dessa expressão.. rsrsrsrs

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